Setor aéreo aposta na vacinação contra covid-19 para retomar negócio em setembro

As companhias aéreas nacionais registram uma média diária de 960 voos domésticos no início de abril, menor nível de operação desde setembro de 2020

Fonte: Valor Investe

Diante de uma grave crise financeira e sanitária, o setor aéreo tem apostado suas fichas na campanha de vacinação para retomar o negócio. A aposta do setor é de que em meados de setembro o cenário de imunização se converta para uma melhora na demanda de passageiros. Enquanto a solução não vem, as dificuldades continuam. Pesquisa da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) antecipada ao Valor apontou que, em 2020, o transporte aéreo como cadeia representou 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, contra 1,4% em 2019.

“Todos os especialistas apontam setembro e outubro como período de virada com a vacinação. Nós voltaremos a voar. A dúvida agora é como será essa volta em cada segmento”, disse o presidente da Abear, disse Eduardo Sanovicz. Até agora, o Brasil aplicou ao menos uma dose da vacina em 19 milhões de pessoas (9% da população do país), segundo dados do consórcio de imprensa.

Há mais dúvidas na retomada corporativa. Enquanto viagens curtas para fechar um negócio na ponte aérea Rio-São Paulo devem se tornar mais escassas, as feiras e eventos tendem a ganhar mais relevância. “O segmento de eventos vai adquirir uma nova importância para sustentar o corporativo”, disse.

Já a demanda doméstica ainda caminha de lado. As companhias aéreas nacionais registram uma média diária de 960 voos domésticos no início de abril. O número representa 40% do que foi verificado no início de março de 2020, antes das medidas de isolamento social e de fechamento de fronteiras, segundo a Abear. Este é o menor nível de operação desde setembro de 2020, quando as empresas operavam uma média de 864 decolagens por dia.

A esperança com a vacinação é a mesma apontada pelo presidente da Gol, Paulo Sergio Kakinoff, na divulgação de resultados da empresa em meados do mês passado. A estimativa dele é de que a imunização da população acima de 60 anos deverá ser concluída até o segundo trimestre. Na visão dele, proteger essa parcela da sociedade seria um importante indutor de demanda. Enquanto a solução não chega, a empresa corre para ajustar sua malha e convidou clientes a remarcar suas passagens em abril.

A crise bateu na porta do setor e trouxe demissões. No total, o transporte aéreo como cadeia empregou 1,5 milhão em 2019, número que caiu para 401 mil em 2020. Considerando os empregos diretos, a massa empregada caiu de 60,7 mil para 58 mil, sobretudo por causa da aviação geral e internacional. O total de tributos recolhidos pelo setor aéreo caiu de R$ 32,6 bilhões em 2019 para R$ 10 bilhões em 2020.

Em termos de massa salarial, a queda foi de R$ 42,9 bilhões para R$ 13,3 bilhões, na esteira também de diversas acordos de redução de salário e jornada. Um dos processos de negociação que ganhou mais destaque foi o da Latam. A empresa, que está em recuperação judicial nos Estados Unidos, teve mais dificuldade para negociar com os aeronautas após propor redução permanente nos salários. A companhia demitiu 2,7 mil pilotos e comissários em 2020, cerca de 38% do seu efetivo no país.

A negociação específica da Latam com o Sindicato Nacional dos Aeronautas se prolongou até fevereiro deste ano, quando a aérea apresentou uma nova proposta para reduzir temporariamente os salários até início de 2023, em uma abordagem semelhante a feita com Gol e Azul no ano passado. A categoria votou contra e os debates foram encerrados.

Outro braço da cadeia aérea a sofrer na crise são as empresas que prestam serviço em terra (chamadas de “ground handling”). Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Serviços Auxiliares ao Transporte Aéreo (Abesata) já foram demitidos 16 mil dos 40 mil trabalhadores do setor.

Há agora nesta segunda onda um movimento de cancelamento de rotas que preocupa a categoria. “Não estamos com medo de demissões, mas de falência de empresas. Sem linha de crédito e sem qualquer tipo de ajuda”, disse Ricardo Aparecido Miguel, presidente da Abesata. O setor depende sobretudo de aéreas internacionais, cuja retomada está muito mais lenta do que o mercado doméstico.

Turismo

O levantamento da Abear também trouxe dados sobre o impacto da crise na cadeia turística como um todo. No total, a participação no PIB do segmento foi de 3,6% para 2,1% de 2019 para 2020. Em empregos, a massa total foi de 4 milhões para 2,4 milhões. Sanovicz destacou a forte ligação entre os braços do turismo. “A pessoas que viaja, ao chegar no destino ela vai precisar de um hotel, ela movimenta a gastronomia, vai adquirir algum bem e serviço”, disse.

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